terça-feira, 9 de março de 2010

para carlos


apto 302

Viu a primeira planta na feira, entre legumes. Comprou, botou na janela. Uma alegria viva, porém sozinha. Na semana seguinte comprou outra. Diferente, mais farta, não ocupava embora todo o espaço do seu peitoril. Seguidas vezes na feira comprou uma e outra planta. A casa habituava-se, sementes caindo dos vasos, germinando na poeira do chão, flores folhagens cipós estendendo raízes, formigas chegando pelas gretas, mal sobrando espaço para mover-se. Fez-se primavera entre a sala e a cozinha. Corria o regato da banheira. Num suspiro despiu-se, sentou-se na superfície esmaltada. A cabo de três dias esbranquiçaram afilados dedos dos pés. Na manhã seguinte um caroço inchou a perna. Sete dias depois a pele luzidia rompeu-se em verde, primeira folha. enquanto outros brotos despontavam. Estonteada em meio a clorofilas recostou a cabeça e adormeceu. O corpo ramejava.


Marina Colasanti

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Mirella!!!

    Eu nao sei como agradecer, que coisa mais linda. Fiquei sinceramente emocionado, é lindo o texto, perfeito. Mas, mais lindo que o texto é o mandamento ético que voce carrega na face, sem esse mandamento você nao me ofereceria esse sublime texto. Minha querida amiga literaria que vive se aquecendo ao sol da literatura, só posso te agradecer postando(em meu blog) algo que estou lendo e lembrei em você. Xero

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